domingo, 30 de janeiro de 2011

Primeiros 30 dias da Mineira Dilma à frente do Planalto enfatizam rigidez e discrição

Primeiros 30 dias de Dilma à frente do Planalto enfatizam rigidez e discrição

Thiago Pariz - diarios associados
Publicação: 30/01/2011 07:56 Atualização:
A presidente Dilma Rousseff termina o primeiro mês no comando da República demonstrando preferência por atuar internamente, dividindo o governo em áreas e colocando quase como uma obsessão a melhoria da qualidade do gasto público. Ao mesmo tempo, se mostrou rígida na exigência de fidelidade dos comandados. Até por isso, nos primeiros dias ela tomou a decisão de demitir um ministro levando em conta exatamente este último quesito.

O alvo da fúria de Dilma na primeira segunda-feira do governo foi o general José Elito Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que havia dito, no dia de sua posse, que a existência de desaparecidos políticos durante a ditadura não deveria ser motivo de vergonha, mas tratada como um “fato histórico”. A presidente, que foi presa e torturada pelo regime militar (1964-1985), informou que os dias de Elito haviam acabado no governo. Uma comissão de militares, capitaneada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, teve de ser formada às pressas para dissuadir Dilma. “Foi difícil convencê-la”, disse um personagem envolvido no episódio.

O recado que chegou a Elito foi o seguinte: “A mulher vai demiti-lo. É bom você ir lá, pedir desculpas e se explicar para ver se ela aceita”. A contragosto, Dilma topou recebê-lo. O general entrou no gabinete do terceiro andar cabisbaixo e com a desculpa ensaiada. O ministro sobreviveu, mas o mesmo destino não teve Pedro Abramovay, ex-secretário Nacional Antidrogas do Ministério da Justiça. A demissão passou pela presidente e foi acertada com o titular da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Contundência Os dois casos irritaram a presidente, mas estão longe de ter ditado o ritmo do Planalto, que foi dado pela obsessão de melhorar a qualidade da gestão da máquina pública. Dilma dividiu o governo em quatro áreas: desenvolvimento econômico, infraestrutura, erradicação da miséria e direitos e cidadania. E quer resultados. Um exemplo é a contundência com que afirmou que obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não serão cortadas. Repetiu a negativa três vezes em entrevista no Rio de Janeiro. “Não é nada surpreendente que a melhoria da gestão seja a principal meta dela. A trajetória da Dilma foi construída assim. É o perfil dela”, afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Para reduzir despesas desnecessárias, ela determinou aos ministros parcimônia com o cartão corporativo e com o uso de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). E pediu a Miriam Belchior que repassasse a ordem aos colegas: “Avaliem o orçamento e hierarquizem as ações”, num esforço para garantir que obras em andamento não sejam interrompidas. Dilma não quer ver frustradas suas promessas de campanha –por exemplo, 2 milhões de moradias, por meio do Minha casa, minha vida, e as 500 Unidades de Pronto Atendimento (Upas).


Clausura 

O desastre climático na Região Serrana do Rio de Janeiro e a seca dos municípios sulistas fizeram a presidente mudar sua rotina enclausurada no Planalto e formar uma força-tarefa para apresentar soluções. Novamente como parte da obsessão dela de mostrar que o governo é eficaz em suas ações.

Dilma prefere ficar distante dos holofotes, o que acabou refletindo em sua agenda. Em janeiro de 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais encontros com governadores e parlamentares. Lula recebeu no Planalto titulares de vários estados. Dilma, por enquanto, teve duas reuniões com chefes de executivo estadual: Antonio Anastasia (Minas Gerais) e Marcelo Déda (Sergipe). Outro detalhe que chama a atenção é que quase todos os dias constam “despachos internos” na sua programação, que não trazem detalhes. Nos primeiros 30 dias da era Lula, os despachos internos eram exceção.

A presidente não gosta de ver assuntos do governo sendo tratados pela imprensa. Por isso, determinou aos subordinados: “Divergências são resolvidas internamente”, num recado sobre a briga pelo segundo escalão. O estilo serviu, primeiro, para apaziguar ânimos na disputa entre o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha e, agora, para amenizar a briga pela presidência de Furnas, que coloca em lados opostos o PT e o PMDB do Rio de Janeiro. (Colaborou Leandro Kleber, especial para o Estado de Minas)

Milhagem contida

O então presidente Lula também foi ao exterior mais vezes do que Dilma no início de seu mandato. A presidente parte neste fim de semana para a Argentina em sua primeira missão oficial fora do país. Lula, nos primeiros 30 dias de mandato, foi ao Equador, à Alemanha e à França cumprir agenda externa.

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